Nenhuma profissão exige tantos atributos como o magistério. Os profissionais que têm a missão de educar gerações precisam reunir múltiplas habilidades intelectuais, culturais e psicossociais, que podem ser sintetizadas em três atributos essenciais.
1º atributo: paixão pela Educação. Todo professor precisa ter vocação para o magistério. Não se trata de categoria subjetiva ou metafísica, mas de engajamento firme, objetivo e prazeroso com a arte de transformar o mundo a partir da sala de aula.
Parafraseando Max Weber, o professor vocacionado não vive do magistério, mas para o magistério. É uma satisfação pessoal com a reflexão e a práxis que constituem a docência e com os resultados de seu engajamento que move esse profissional a entregar-se de corpo e alma a seu ofício.
2º atributo: temperança. Se de um lado o professor tem o calor da paixão, de outro precisa ter a frieza do discernimento, o que exige o controle adequado das emoções. Temperança, do latim "temperantìa,ae" é senso de proporção, é moderação, é sobriedade, é inteligência emocional, expressão esta formulada pelo psicólogo americano Daniel Goleman e que se desdobra nos cinco atributos abaixo.
3º atributo: autoconhecimento. Para Sigmund Freud, a pessoa é um sistema de sentimentos. A Filosofia grega estruturou-se a partir deste imperativo: "Conhece-se a ti mesmo!" Para saber quem sou e afirmar minha identidade em mim mesmo e no mundo (e na sala de aula), preciso compreender os sentimentos que me determinam.
O professor deve se conhecer mais o tempo todo, inclusive a partir do feed-back dos alunos. É preciso ser receptivo com as críticas e moderado com os elogios. Sempre haverá espaço para o autoaprimoramento.
4º atributo: autocontrole. O desenvolvimento pessoal depende de controle das emoções. Em uma das peças de Shakespeare, lemos: “Thy wish was father, Harry, to that thought” (“Teu desejo, Harry, foi pai deste seu pensamento'). De fato, o raciocínio é em regra permeado de sentimentos. Assim, o pensamento livre e desembaraçado depende, não apenas do conhecimento, mas também de controle emocional.
Os professores trazem em si cargas de sentimentos e de pré-compreensões nem sempre bem ajustados, que podem-se manifestar, por exemplo, em atitude de favorecimento a certos alunos em detrimento de outros. Essas distorções, que se reproduzem pela vida, não podem se proliferar na sala de aula. Por isso, o professor deve estar vacinado contra elas.
5º atributo: automotivação. O professor não se move de empolgação estéril, que só dura um momento. Antes, a sua motivação está bem enraizada em sólidos sentimentos, convicções e experiências.
Os atributos do professor nota 10 se retroalimentam, de maneira que ele não precisa de muletas, nem de impulsos externos. É um profissional inabalável e resiliente, que não desiste de seus objetivos. Não apenas ensina, mas com sua energia e bom ânimo, ele inspira.
6º atributo: empatia. O professor nota 10, um profissional bem resolvido consigo mesmo, consegue se projetar para o lugar do outro e prever reações, estimulando as positivas e evitando as negativas.
O equacionamento das próprias emoções coloca o professor em condição de ajudar seus alunos neste processo. Crianças e adolescentes muitas vezes têm uma imagem distorcida de si, o que é provocado geralmente pelas ideias tóxicas e descriminatórias que circulam pela vida.
A melhor forma de ajudar infantes nesta situação é se colocar ao lado deles e ajudar nesse ciclo de maturação racio-emocional. Os pequenos e jovens precisam se sentir ao menos compreendidos por alguém, nesse mundo em que as pessoas tendem a não reservar tempo para se dedicarem às outras.
7º atributo: comunicação. Após passar certo tempo longe da sala de aula, percebi que minhas habilidades sociais começaram a se atrofiar. Com isso, percebi a importância da comunicação no dia-a-dia do professor.
O profissional do magistério é um exímio comunicador. Não é apenas alguém que fala aos alunos, mas que também os ouve. Nessa interação, o alunado cresce, mas o professor também.
A docência é comunicação intensiva e permanente. O professor muitas vezes cobra atenção dos alunos, mas se esquece que os alunos também precisam de atenção para que possam se integrar adequadamente no processo educacional.
Para ser um professor exemplar, precisamos sair do casulo e nos expor. Para transformar gerações, primeiro é necessária uma transformação pessoal. Paixão, temperança, autoconhecimento, autocontrole, automotivação, empatia e comunicação são os atributos que não faltam no professor que vive para a Educação.
Edvaldo Fernandes da Silva
Doutor em Sociologia, Mestre em Ciência Política, jornalista, advogado, professor de Educação Básica (1991-1996), professor universitário e cofundador da Rede Pedagógica.
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