Outro dia encontrei-me com a mãe de um coleguinha do meu filho de escola e ela contou-me que irá levar a criança para outra instituição escolar no ano que vem porque tinham-no ensinado a ler e escrever aos 5 anos de idade e, do ponto de vista dela, as coisas estavam indo “rápido” demais. “Quero mais é que meu filho brinque, seja criança!” – disse, bastante INCONFORMADA.
Não pude deixar de concluir que os professores têm um desafio muito grande em mãos: além de alfabetizar as crianças, alfabetizá-las no tempo considerado “certo” pelos pais, pela escola, pela sociedade, pelo sistema de ensino, pelos outros professores, ou no tempo que seja mesmo o CERTO, se esse tempo existir...
Enquanto uns reclamam que o processo está “demorando” ou, ainda, que não foi iniciado, outros podem até queixar-se de o mesmo ser realizado de forma “precoce” e atabalhoada.
Afinal, existe uma idade ideal para aprender a ler e escrever?
A meu ver, o aprendizado da leitura e da escrita inicia-se antes mesmo de a escola tomar essa decisão. A partir do momento que a criança tem contato com materiais escritos, irá percebê-los e tentar decifrá-los. Elas começam pela imitação. Se os adultos o fazem, se olham para “essas coisinhas” e dizem o que elas significam, por que não tentar? Esse processo é inevitável, a menos que privemos o indivíduo de todo e qualquer contato com o mundo das palavras.
Quando meu filho era bem pequeno, lembro-me quando ele disse, bastante empolgado, sentado na cadeirinha do banco de trás do carro: _ Mãe, olha o Batatas!
Eu disse: _ O quê? Onde?
Ele apontou com aquela mãozinha pequena uma lanchonete. Eu, que estava na faculdade de Pedagogia, quis fazer uma experimentação e perguntei: _ Como é que você sabe?
_ Ali está escrito: BA-TA-TAS! – meu filho disse, silabando (sic).
(Era apenas o totem do Mc Donald’s com aquele M grande, amarelo e luminoso, e é claro que depois dessa comemos algumas batatinhas!)
Os neuropediatras dizem que o período ideal para o ensino da leitura e da escrita vai dos 4 aos 7 anos de idade, mas que esse seria apenas um referencial, considerando o desenvolvimento cognitivo do ser humano, do próprio cérebro. Em todo o caso, sempre é bom lembrar: cada indivíduo é único e possui tempos diferentes para seu desenvolvimento.
Além disso, existem alguns pré-requisitos para que a criança possa apropriar-se do código escrito e desenvolver tanto a habilidade de decodificá-lo (ler) como de realizar o processo inverso (escrever). Esses pré-requisitos seriam, por exemplo, o desenvolvimento da própria linguagem oral, da coordenação motora fina, da abstração, etc. Portanto, não há que se falar em ensinar uma criança que mal sabe falar e andar, a ler e escrever.
A prontidão da criança para a alfabetização também pode variar em função dos estímulos que ela recebe em casa. Se ela convive com pessoas que possuem competência de leitura e escrita, estará vivenciado o processo para além dos muros da escola e essa diferença será nítida aos olhos do professor.
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), um compromisso formal entre os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais em 2012, preconizava que as crianças brasileiras deveriam ser alfabetizadas até os 8 anos de idade, ou seja, até o 3º ano fundamental.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), publicada em 2017 e com previsão de implantação nas escolas até 2020, estabelece que as crianças já devem possuir habilidades relacionadas à leitura e escrita ao final do 2º ano fundamental, ou seja, 7 anos de idade.
Estamos falando aqui de um referencial máximo, ou seja “até quando” a criança já deverá estar alfabetizada. Para que possamos responder, portanto, a pergunta que dá título a esse artigo, precisaremos raciocinar do ponto final para o inicial: quanto tempo levará esse processo? Assim, ficará fácil descobrir o momento ideal para dar início aos trabalhos.
Voltando à mãezinha que estava preocupada com a infância do seu filho que aprendeu a ler cedo demais... A preocupação que ela tem é legítima, a família precisa ser ouvida.
Talvez falte um diálogo arrazoado entre escola e pais ou responsáveis no sentido de elucidar que a alfabetização não tem como premissa ser um processo desgastante, de competição entre os alunos, mas sim um amadurecimento e desenvolvimento natural do estudante, realizado de forma responsável, preservando sua condição infantil, sem causar-lhe frustrações e ansiedade.
Portanto, mais do que preocuparmo-nos com o QUANDO, o desafio do professor está em COMO alfabetizar seus alunos.
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Erika Radespiel
Graduada em Administração de Empresas pelo Centro Universitário de Brasília (2007). Graduada em Pedagogia pela Universidade de Brasília (2013). Pós Graduada em Educação pela Faculdade Pitágoras (2014). Escritora de materiais pedagógicos para Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Consultora pedagógica da Rede. Educadora ambiental responsável pela elaboração e desenvolvimento de Programas e Projetos de Educação Ambiental na Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – Caesb.
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